Fala um motorista desorientado

22/08/2009

Pastor George Horner,

Chamo-me Paulo Sérgio. Estive à sua procura, mas não consegui encontrá-lo. Queria apenas pedir-lhe um emprego na santa ICD, a fim de salvar-me da situação desesperadora em que me encontro, criada pelos seus belos livros cristãos.

Sou um homem de quase 45 anos de idade. Resido em Sobral, cidade do interior do Ceará. Vivia profanamente feliz com meu esquema (companheira), em um barraco (bem estruturado) com relativo conforto, possuindo TV 15” Cce, geladeira, rádio-vitrola (suficiente pra escutar forró), etc. Trabalhava num táxi de minha propriedade (fusca de cor verde), que dava pra me sustentar nas despesas.

Até que um dia, por artes do Diabo, peguei num livro de sua autoria com o título “Mirai ni shi ga aru” (versão nipônica de “O Futuro é a Morte”). Então começou a minha vacilada…

Eu, que nunca acreditei em Deus, entusiasmei-me pela sua literatura convincente de que Deus existe, comecei a pagar o dízimo e fui comprando todos os seus livros no intuito de praticar todos os seus ensinamentos fielmente.

O primeiro obstáculo que encontrei foi o meu esquema; pois abrandou nossas relações sexuais. Dizia-me ela que não podia mais me suportar, pois eu estava “viajando” ao ler tanta merda.

A princípio, eu nem liguei e continuei a ler os seus livros, praticando o bem, dando aos outros tudo o que podia dar, pagando dízimo, transportando passageiros de graça no táxi, não bebendo ou fumando e até mesmo não traindo meu esquema; pois acreditava piamente que “HÁ MAIS FELICIDADE EM DAR DO QUE EM RECEBER” conforme o senhor ensinou.

Ela não queria nem saber e me expulsou do meu barraco. Reagi, e ela chamou o Ronda (polícia local) e me acusou na lei número 11.340(Lei Maria da Penha), indo eu, pela primeira vez na minha vida, parar numa cadeia imunda. Como tudo que tinha em casa estava no nome dela -claro, pois era só esquema e não casados- o delegado deu razão a ela.

Desesperado, pensei que Deus me tivesse abandonado e tentei me suicidar com veneno de rato “chumbinho”. Passei 6 dias no hospital do SUS entre a vida e a morte. Fora de perigo, fui levado por meu padrasto para a casa de minha mãe.

Mais calmo, refletindo com seus livros, pensei que esta desgraça seria para o meu próprio bem e me conformei em perder tudo: o barraco e o esquema. Ainda me restava o fusca para trabalhar.

Mas, em casa de minha mãe, continuou o meu sofrimento. Meu padrasto, que é espírita e diz ser médium, entrou em conflito religioso comigo (na época eu não conhecia a sua ORAÇÃO PARA DESCARREGAR DEMÔNIOS RESISTENTES) que era evangélico.

Fizeram uma reunião (mesa branca) em casa, esse ato espírita consiste em baixar espíritos e consulta-lós. O resultado foi que meus irmãos disseram-me que eu estava esgotado, perturbado, “fumando” e que eu deveria ir descansar num hospício. Concordei e fui internado no Sanatório Myra y Lopez à Rua Padre Antônio, só podia ser católica, para meu desgosto.

No primeiro dia no sanatório, sem os seus livros, notei que eu não estava internado pra descansar, mas sim como um verdadeiro louco (e eu não era louco). Reagi, violentamente, pois isto significou o fim da minha vida.

Depois de 6 dias, apareceram os meus parentes e me disseram pra sair do hospício, mas não queriam mais saber de mim. Com fé em Deus, resolvi enfrentar o desprezo dos meus parentes e arranjei uma casa, outro barraco, num terreno baldio à Rua Padre Roma, novamente rua católica, absurdo!

De acordo com os seus ensinamentos, suportei tudo com resignação, pois era a vontade de Deus que eu sofresse tudo isso. Assim, depois de sofrer tanto na vida, profanamente, eu me via jogado num barracão, sem água, sem luz e, portanto, sem o forró. Era considerado louco por todos e possuía apenas o meu fusca e os seus livros.

Trabalhando no carro, quase sempre servindo de graça – o que surpreendia os passageiros não evangélicos- ganhava o suficiente pra comer, embora fosse o típico arroz com farofa Cearense ou a tapioca, mas, no final de semana, comia um espetinho de gato, quando o dinheiro restante do dízimo dava para comprar. E nem pagava casa.

Porém, os meus sofrimentos não terminaram aqui. Levei uma forte batida no carro e como não tinha grana para consertá-lo, resolvi vendê-lo por R$ 500, mas só consegui R$ 200 conto. Este carro valia mais de R$ 1000. Pensei ser a vontade de Deus que eu perdesse o meu fusca, visto que Hitler tinha apoiado a produção de fuscas em 1933.  Depois de 6 dias, com esse dinheiro, tentei investir em um novo esquema, mas fui vítima do golpe Boa Noite Cinderela e perdi tudo.

Comecei agora, então, a refletir sobre os últimos acontecimentos da minha vida. Quando eu não acreditava em Deus, vivia feliz. Agora que eu procuro a Deus, sou infeliz, desprezado por todos como um louco e inútil. Por quê???

Pastor George Horner responde:

Irmão Paulo Sérgio, é lamentável que você não tenha haurido, de forma idônea, os ensinamentos que forneço em meus livros, senão você estaria vivendo, agora, uma vida digna de regozijar-se. Não percebeu que há um encosto em tua vida? Eu diria que, na verdade, são aproximadamente 4, digo isto com minha autoridade eclesiástica. Utilizando-me de penetração psicológica, ficou claro todo o motivo de sua derrota. Repare, por exemplo, nos dias prolongados de sofrimento:

“Passei 6 dias no hospital do SUS entre a vida e a morte”

“Depois de 6 dias, apareceram os meus parentes e me disseram pra sair do hospício”

“Depois de 6 dias, com esse dinheiro, tentei investir em um novo esquema, mas fui vítima do golpe Boa Noite Cinderela e perdi tudo”

A sucessão numérica implica no famoso número da Besta, o Cão. 666.  Para ser sucinto, desde o início, você foi vítima de “falsas orações” por parte do padrasto espírita, que lançou invídias sobre você, sua companheira ou esquema, como queira, e seu confortável barraco. Agora que não possui mais renda, o seu dízimo tornou-se fraco e dificilmente conquistará uma nova vida confortável. Quanto ao emprego, você teria alguma chance se possuísse conhecimentos acadêmicos laudáveis.

O caso aqui tratado não é digno de jubilosos comentários por minha parte, visto que cabe aos educadores amparar pessoas destituídas de instrução e não aos pastores.

A paz!

Pastor George Horner